Prevenção do câncer de Cabeça e Pescoço
- VeraOdonto - Odontologia Hospitalar Integrada
- 26 de jul. de 2022
- 4 min de leitura
Atualizado: 27 de jul. de 2022
Nosso convidado do blog é o Prof.Dr. André Bandiera, cirurgião de cabeça e pescoço e especialista em câncer de pele. Ele atua na Clínica Oliveira Santos, em São Paulo, onde também é Cirurgião de Cabeça e Pescoço do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP). Leciona Propedêutica Cirúrgica na Universidade Nove de Julho. Autor acadêmico na área da saúde, vai falar sobre a prevenção do Câncer de Cabeça e Pescoço.

Vinte e sete de julho é o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço. Do que se trata?
Alguns dos tumores mais frequentes do corpo humano ocorrem nessa região. Os mais frequentes são de pele, de boca, garganta, laringe, tireoide e glândulas salivares, cada um deles com suas particularidades, diferentes sintomas e estratégias de prevenção. Nesse texto falarei sobre cada um deles.
Câncer de Pele - muito frequente em pessoas de pele clara, especialmente após os 50 anos. O principal fator de risco é a exposição ao sol desde a infância. Pessoas que se queimam muito fácil e que tiveram histórico de muitas queimaduras solares, de ter ficado vermelho e ardendo após dias de sol, têm mais chance de desenvolver esse tipo de tumor. Podemos dividir os tumores de pele em melanomas e cânceres de pele não melanoma. O melanoma é perigoso e a maneira mais eficaz de identificá-lo é observar as pintas do corpo. As pintas que crescem ou mudam de cor devem ser examinadas por um médico. Já as lesões não melanoma aparecem como feridas que não cicatrizam, que podem formar uma casquinha que cai e logo volta, ou mesmo aparecer como um nódulo endurecido, róseo. Os tipos mais comuns de câncer de pele não melanoma são o carcinoma basocelular e o carcinoma espinocelular. Como se prevenir? Ter exposição solar consciente, com proteção física (camisetas, chapéu) e com protetor solar, recomenda-se fator 30 no mínimo e reaplicação durante o dia. O Câncer do lábio tem os mesmos fatores de risco (sol) e a mesma estratégia de prevenção - feridas que não cicatrizam ou espessamento esbranquiçado do lábio são lesões iniciais que precisam de avaliação.

Câncer de boca - se o câncer de pele tem o cuidado de várias especialidades, os tumores de boca são cuidados exclusivamente pelo cirurgião de cabeça e pescoço. Os fatores de risco para esse tumor são muito bem definidos : tabagismo e etilismo. Quem fuma tem 10 vezes mais chance de desenvolver, quem bebe regularmente tem 20% mais chance de desenvolver. Mas quem associa os dois fatores, ou seja, quem fuma e bebe tem 35 vezes mais chance, ou seja 3500% a mais de desenvolver um tumor de língua do que a população não fumante e não etilista. Essas lesões são visíveis e curáveis quando diagnosticadas cedo, pequenas, muitas vezes sem o desenvolvimento de dor no local. São feridas ou nódulos que não cicatrizam, podem parecer aftas no começo. Quando mais avançadas podem sangrar e desenvolver nódulos duros no pescoço.

Câncer de garganta - o nome mais técnico da garganta é orofaringe. Lesões nessa região podem crescer sem sintomas ou a pessoa notar uma sensação de espinha de peixe ao engolir, às vezes uma alteração no hálito ou um pouco de sangramento. Os fatores de risco são os mesmos que os da cavidade oral (tabagismo e etilismo) e o tumor de orofaringe pode ocorrer também pelo vírus HPV por contato sexual.

Câncer de laringe - para o câncer de laringe a alteração da voz com rouquidão é o sintoma mais frequente. Recomenda-se procurar o médico após duas semanas de rouquidão que não melhora para avaliação. Mais uma vez, os fatores de risco são tabagismo e etilismo. A cessação do tabagismo é algo difícil para grande parte dos pacientes mas é a principal estratégia de prevenção para as lesões de boca, garganta e laringe, sem mencionar o câncer de pulmão, estômago e bexiga.
Se as estratégias de prevenção e isolamento dos fatores de risco são claros em relação aos tumores de pele, boca, garganta e laringe, isso não é tão simples em relação às lesões de glândulas salivares e tireoide.

Glândulas salivares - as estruturas do nosso corpo que produzem saliva são glândulas na proximidade da boca - elas ficam na frente da orelha (parótidas), embaixo da língua (sublinguais) e na parte alta do pescoço (submandibulares). Não há fator de risco conhecido para tumores nesses locais. O que importa é não menosprezar pequenos nódulos que aparecem e procurar o médico assim que notar alguma alteração, para que o tratamento possa ser feito rapidamente, antes de se espalhar

Glândula tireoide - também aqui os fatores de risco não são claros. Há importância em ficar mais atento se há algum familiar de primeiro grau que tenha a doença ou tenha sido tratado, mas não se recomenda exames seriados ou parar algum hábito ou vício. Notando algum nódulo ou caroço na parte mais baixa do pescoço é importante procurar um médico. O câncer da tireoide pode causar rouquidão eventualmente.
Resumindo: os principais fatores de risco conhecidos para tumores de cabeça e pescoço são o tabagismo, o etilismo, o HPV e a exposição solar. Recomenda-se não fumar, parar de fumar e não beber, parar de beber se isso for um hábito ou vício, ter vida sexual responsável e com proteção, assim como ter uma exposição solar saudável, com roupas e com protetor solar por toda a vida, mas em especial na infância e adolescência. Essas estratégias são para que as lesões não se desenvolvam. Para a detecção precoce, ou seja, descobrir lesões perigosas logo no início, alguns sintomas se destacam: feridas na pele que não cicatrizam, nódulos rosados e pintas que crescem ou mudam de cor devem ser avaliados por médico assim que notados; feridas na boca que não cicatrizam, lesões esbranquiçadas, sensação de espinha de peixe ao engolir e rouquidão que não melhora em 15 dias deve levar a pessoa a procurar médico; finalmente, nódulos no pescoço, especialmente se forem endurecidos e não doerem devem ser examinados para descartar que isso seja um câncer de cabeça e pescoço ou tratar desse câncer logo que ele apareça.
Muito obrigado pela leitura.
Prof.Dr. André Bandiera
Cirurgião de Cabeça e Pescoço
Instituto do Câncer do Estado de São Paulo
Instagram: @drandrebandiera
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